A Santidade está Alicerçada na Graça de Jesus  [I Pedro 1.13-16, 21; 2.1]. Eis o roteiro que segui:

1. Apesar de Pedro estar fazendo referência – entre outros textos – a Levítico 11.44-45, é bom lembrar que ele o faz a partir da seguinte mudança de eixo [proposta por ele mesmo no versículo 9 do capítulo 2]: a Igreja do Cristo é “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido”, e não mais o Israel Carnal como apresentado no AT [Êxodo 19.5-6].

2. Por extensão, quando Pedro afirma “sede santos, porque eu sou santo”, ele não o faz a partir de qualquer conceito anticotestamentário de santidade, ou seja, ele não o faz a partir de uma santidade alicerçada na obediência aos 613 mandamentos da Lei, de um estrito cumprimento formal, mecânico ou burocrático de uma agenda moral, e de um curriculum vitae meritório.

3. Ao invés de uma santidade alicerçada na Lei, me parece, pelo menos nas primeiras comunidades de fé, que a santidade cristã é alicerçada na Graça. Aceitamos [?] que a salvação é pela Graça, mas temos muita dificuldade em aceitar que a santidade também pode ser pela Graça. Talvez porque vejamos a santidade como um prêmio a ser conquistado com muito esforço.

4. Não estou sugerindo o descarte das santidades apresentadas no AT, mas elas só deveriam nos interessar como material de consulta, não como proposição. A santidade alicerçada na Graça não pode ser reduzida ao binômio moral-mérito e nem a uma lista de afazeres, na verdade, a uma lista bem maior de não-fazeres. A santidade cristã é, em alto grau, antinomianista.

5.1. Ao ressignificar o “sede santos, porque eu sou santo”, a santidade alicerçada na Graça propõe que o “sede santos, porque eu sou santo” é um convite divino a partir do caminho de Jesus, e não uma exigência legal a partir do caminho de Moisés.

5.2. Ao ressignificar o “sede santos, porque eu sou santo”, a santidade alicerçada na Graça propõe que não podemos ser santos sem o Santo, ou seja, não há beleza, bondade, benignidade, justiça ou verdade dita e praticada que possa nos santificar.

5.3. Ao ressignificar o “sede santos, porque eu sou santo”, a santidade alicerçada na Graça propõe que ninguém, por melhor que seja e por melhor que faça, pode ser santo diante do Santo. E é bom lembrar: o Santo não depende da nossa santidade.

5.4. Ao ressignificar o “sede santos, porque eu sou santo”, a santidade alicerçada na Graça propõe que somos santos não porque alcançamos algo, e sim, porque contemplamos alguém: o Santo. A Lei protege o pecador do Santo, a Graça os aproxima.

5.5. Ao ressignificar o “sede santos, porque eu sou santo”, a santidade alicerçada na Graça propõe que somos santos na medida em que nos relacionamos com o Santo, o seja, santificação é relação ofertada e imerecida com a fonte da santidade.

5.5.1. Ao falar de um relacionamento com o Santo, ou com o Sagrado, pressuponho um relacionamento transformador por contato; falo de virtude, a partir dos dois termos traduzidos como “virtude” no NT: αρετη, uma consistente disposição interna às ações boas; e δυναμις, o fazer o bem com poder, energia, disposição.

5.5.2. Ao falar de um relacionamento com o Santo, ou com o Sagrado, pressuponho um relacionamento transformador por contato; falo não só de virtude, mas também de espiritualidade, de um impulso e um improviso, em função da conjugação de transcendência e transcircunstancialidade, para a afirmação dos viveres.

6. Todas as epístolas de Pedro, assim como as de Paulo, são para cristãos. À Igreja em Éfeso, Paulo recomendou que os cristãos que ainda mentiam, que não mentissem mais, e aos que ainda roubavam, que não roubassem mais [4.22-28].

7. Não somos santos por causa da nossa fé. Não somos santos por causa da nossa ética. Somos santos, porque Ele é o Santo. Ele é nossa condição necessária de santidade, ou melhor, nossa relação necessária de santidade.

Deus te abençoe,
Dercinei

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