O PAI

Uma das principais consequências da encarnação de Jesus Cristo é a aproximação que Ele promoveu entre nós e Deus. Mais do que ser o Caminho, Jesus encurtou as distâncias. E um dos mais belos exemplos disso é o convite que Cristo fez para que chamássemos Deus de Pai. Se o judeu ortodoxo via Deus como o Altíssimo (imarcescível), e o grego tendia para um deísmo, para uma noção de divindade que não tocava, nem podia transitar por esta decaída realidade, por conta da corruptibilidade do plano material, Jesus revoluciona o modo de ver Deus, chamando-o de Pai.

Conquanto esta representação (sim, Deus como Pai é uma das muitas representações do divino na Bíblia) não seja a única, ela é possivelmente a que melhor transmita algumas verdades da relação Deus-ser humano. Como representação, ela é limitada (Deus sempre será maior do que toda e qualquer forma de representação), contudo permanece reveladora, linda e indicativa do que envolve a relação de Deus para conosco.

Ao chamar Deus de Pai, Jesus aponta para alguém que é provedor, para aquele que está atento para as necessidades dos seus filhos. O Pai sabe o que você precisa. Ele proverá, no tempo certo: acalme seu coração.

Deus como Pai aponta para a intimidade de uma relação. Para o afago e segurança que temos (ou tínhamos) ao abraçar ou ser abraçado pelo nosso pai. É essa figura do acolhimento, ou até mesmo do recolhimento que está expressa aqui. Nosso Pai eterno não tem raios nas mãos para nos fulminar, mas braços acolhedores para nos ninar.

Ao chamar Deus como Pai Jesus aponta para uma realidade genética que se torna aplicável ontologicamente. Embora possamos ter muitos pais na vida (gente que se aproxima e cuida da gente com extremo carinho), todos nós temos um pai biológico. Assim é no campo religioso: há muitos "pais" (gurus, etc.) por aí, mas somente um carrega a nossa genética espiritual - Deus revelado em Jesus Cristo. Se as religiões podem nos oferecer "colos paternais", somente em Deus e na Sua Paz, relaxamos.

Deus como Pai aponta para uma relação que é perene. Embora casais possam deixar de ser casais em algum momento da vida, nenhum filho deixa de ser filho do seu pai. Os pais falecem, são enterrados, mas a relação filial permanece. Ao optar por essa representação de Deus, Jesus aponta para uma relação eterna: Deus sempre será nosso Pai, e nem mesmo a morte de Deus promovida na filosofia e literatura do século XIX, tem o poder de retirar essa filiação. Para aqueles que acreditam num Deus morto, perde-se a relação, mas não a filiação, coisa que Cristo queria ressaltar.

O amor incondicional também é apresentado nessa figura do Pai. Ora, todo pai ama (ou deveria amar) incondicionalmente seu filho (a). Aquela criança nada fez por você; aquele bebe tira seu sono, faz "caquinha" e você não parar de amar aquele "trenzinho". O coração parece que vai explodir de tanto amor! Assim é Deus conosco. O amor dele é incondicional: nada do que você faça ou deixe de fazer fará Deus amar menos ou mais você. Ele ama porque é amor; Ele ama porque Ele é o teu e o meu Pai.

Por fim, Deus como Pai aponta para nossa responsabilidade como pais terrenos. As pessoas terão maior ou menor dificuldade em se aproximar de Deus, do Pai celestial, dependendo do tipo de pai que tiveram aqui. Alguém que teve um pai truculento, ou mesmo mentiroso, ausente, vai ter dificuldades em enxergar no Pai celestial um Deus do afago, do abraço, da verdade, e da eterna presença. A nossa responsabilidade como pais não está só voltada para a educação, amor, provisão do lar, mas também com a representação da representação, isto é, com a imagem de pai que introjetamos nos nossos filhos a qual servirá em algum momento como filtro para compreender o Pai Celestial.

Vamos orar agradecendo pelos pais que tivemos ou que ainda temos! Vamos orar pela nossa paternidade, para que Deus nos ajude a sempre sermos pais melhores, espelhando em nossas ações o Seu amor e fidelidade. Que Deus nos abençoe.


Pr. Sergio Dusilek