QUANDO A CURA ALCANÇA OS "DE FORA"

Disse Jesus: "Também havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão Naamã, o sírio." (Lc.4:27)

Você precisa de uma intervenção divina? Tem algo hoje na sua vida que somente Deus com seu poder pode reverter (consoante ao que lhe parece)? E o que pensar quando você vê alguém numa situação análoga a sua, sem que cresse em Deus, mas agora agradecido pela Sua intervenção, sendo alcançado por esse poder do alto? O que a cura, a restauração de alguém de fora tem a nos ensinar?

Em primeiro lugar está a insondabilidade de Deus. O fato de Deus miraculosamente curar uns e não outros, de restaurar a saúde de gente que "não nos desce" e não sarar aqueles que pensamos ser dignos da ação divina aponta para a manifestação da Sua Graça (sim porque o dom de curar é um karismata - manifestação/dom da Graça) e também para sua imprevisibilidade. Deus formatado não é Deus, é ídolo ideológico.

Em segundo lugar penso que a experiência de Naamã aponta para aqueles que recebem com avidez e fé a palavra de esperança do Senhor, ainda que (eu diria principalmente) saia da boca de uma menina escrava. Naamã é a figura oposta ao tipo representado pelos religiosos. Ora, por que razão Deus não sararia ninguém do Seu povo, como Jesus assinalou? Talvez seja porque o povo, acostumado com o ensino sobre aquele Deus, com os rituais de invocação daquele Deus, acabou se esquecendo, por mais paradoxal que seja, de quem de fato era o seu Deus! Nesse sentido, Naamã é a figura do cara de fora, que não sabe nada da tradição judaica (e se fosse hoje, da tradição cristã), mas que ao ouvir sobre o poder desse Deus se volta inteiramente a Ele. Alguém que aprende, sem ter sido ensinado (embora tenha sido instado, é verdade), que diante de Deus não há esconderijos; Ele nos vê, ainda que usemos nossas couraças, com as nossas lepras. Por isso podemos mostrar as nossas feridas para que Ele as cure. Como bem disse Henri Nowen: "somente no lugar da cura é que mostramos as nossas feridas".

Esta é basicamente a diferença entre prática religiosa e prática de fé, de vida com Deus. Enquanto a religiosidade nos ensina a esconder nossas feridas diante de Deus, como se pudéssemos ludibriá-lo, a espiritualidade calcada na vida de fé reconhece que melhor é apresentá-las logo diante do Senhor! Se a vida nos ensina a ter couraças com muitas pessoas e situações, diante de Jesus elas se tornam um peso desnecessário.

Por fim Naamã aponta para a proximidade... ele era general inimigo, o braço direito do "Assad" daquele tempo. Contudo seu país era fronteiriço com Israel... as colinas de Golã...lembra? Isso implica dizer que há muitas pessoas, algumas delas investidas de autoridade pelo Inimigo e que estão próximas a nós, precisando de cura. Não seja como o rei de Israel que perde o prumo ao ler a carta do Rei da Síria. Seja como aquela menina escrava, que mesmo não querendo estar ali, naquela casa, com aquela família, fazendo aquele serviço, evangelizou, trouxe uma boa nova para Naamã. Sim, há muita gente, há muito relacionamento carcomido pela lepra, já desprovido de toda e qualquersensibilidade, que precisa ter essa pele "podre" transformada em pele de bebê Johnson. Que Deus lhe use para isso.

Pr.Sérgio Dusilek