TRISTE REALIDADE

Vanessa, uma menina de 10 anos, foi pegar o chinelo quando do nada começou muito tiroteio. Eu me abaixei e não vi mais a menina. Depois que os disparos cessaram, eu encontrei com ela ainda viva. Ela levou um tiro na cabeça, que entrou pela testa e saiu pela nuca. O impacto foi tão forte que ela parou do lado de fora da casa – disse a madrinha da menina, Neide Gomes, aos prantos e com a roupa ainda suja de sangue.

Paulo Henrique, 13 anos, morreu no dia 25 de abril após ser baleado na barriga durante um tiroteio no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. O adolescente estava indo jogar videogame na casa de um amigo quando foi alvejado, às 18h de uma segunda-feira, em um beco perto de onde morava.

Maria Eduarda, também com 13 anos, gostava de publicar fotos nas redes sociais. Ela aparece sorrindo na maioria dos cliques, abraçada aos amigos e fazendo caretas divertidas. Em sua última publicação aberta ao público, no entanto, ela dizia apenas um “Fui...”, acompanhado por dois desenhos: um coração partido e um emoji com lágrimas nos olhos. Na tarde do dia 30 de março, a menina saiu de cena, ao morrer baleada dentro da escola onde estudava, na Pavuna.

Fernanda Adriana, 7 anos, morreu após ser atingida por uma bala perdida no Parque União, Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, no dia 15 de fevereiro. Ferida em um dos ombros, foi socorrida por moradores e levada para o Hospital Geral de Bonsucesso, por volta das 20h, mas não resistiu aos ferimentos.

Com apenas dois anos de idade, Sofia Lara morreu vítima de bala perdida, na noite do dia 21 de janeiro, dentro de uma lanchonete do Habib's, em Irajá, Zona Norte do Rio.

5 casos apenas nesse ano fruto da violência que assola o Rio de Janeiro e, segundo levantamento da ONG Rio de Paz, em dez anos, 35 vidas já foram interrompidas na infância pela violência.

Quando converso com Nauva, mulher extraordinária que me alerta sobre a realidade das crianças no Conselho Tutelar da nossa região, fico me questionando: como pode ser assim? Porque é assim? Até quando será assim? Era para ser assim? Me vem ao coração uma frase do Papa Francisco: "Os desertos externos estão aumentando no mundo porque os desertos internos se tornaram tão vastos".

O cenário é triste, mas não podemos perder a esperança. Tenho certeza que apesar dos desertos internos algo novo pode nascer. Como disse Fernando Pessoa: “Extraviamo-nos a tal ponto que devemos estar no bom caminho”.

Minha esperança existe porque Deus não desistiu de nós. Só Ele pode nos ajudar.

Pr. Ronald Souza