Quando falamos de utopia, quase sempre se pensa em um lugar ou situação impossíveis. Aquilo que é inalcançável, um sonho distante e que jamais será realizado. A etimologia da palavra, no entanto, refere-se a um "não lugar"; nesse sentido, utopia é apenas um lugar inexistente, um lugar nenhum. Por isso, as pessoas utópicas são tidas como sonhadoras, que vivem fora da realidade.

Porém, Ernst Bloch, um filósofo alemão conhecido como o filósofo da esperança, nos ajuda a ressignificar esse senso comum. Uma das coisas importantes que Bloch nos diz é que "ser humano significa ter utopias", ou seja, todo ser humano é um ser de utopias, pois o tempo todo estamos idealizando dias, lugares e realidades melhores do que as que vivemos. Mas é justamente quando ele aproxima utopia de esperança que nos dá uma contribuição valiosa; Bloch nos diz que, mais importante do que saber para onde se vai, utopia é saber de onde saímos. Bloch afirma que utopia não é um lugar inalcançável, um sonho distante da realidade, mas apenas um lugar que ainda não existe. Entender isso é muito importante, pois esse lugar que ainda não existe passará a existir no exato momento em que houver uma ruptura com o lugar atual.

Ou seja, ainda que não saibamos ao certo para onde vamos, apenas não aceitar determinadas situações, ou nos deixar submeter a alguns relacionamentos, e romper com tudo isso já é um nítido sinal de utopia. Pois, mesmo que não saibamos ao certo para onde ir (e aqui não estou falando necessariamente de um lugar), se permitir um processo de mudança, de saída, como no caso dos hebreus no êxodo, e passar a peregrinar no deserto, já nos permite ter esperança de lugares e dias melhores. Para onde vamos, talvez nem saibamos ainda, mas a inconformidade com o atual lugar não nos permitirá algo igual ou menor.

Contudo, para que isso aconteça, não podemos viver carregando o passado dentro de nós. Utopia também é não sentir saudades do local de onde saímos. As memórias desse passado precisam ser substituídas pelos sonhos de esperança daquilo que virá. Deixar as "cebolas" do Egito para trás é cultivar no coração a utopia que nos mobiliza para algo novo. 

Talvez seja isso que você esteja precisando agora.

Deus te abençoe,
Pr Lázaro Sodré (SE)

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