É precisamente a crise teodicéica que encontramos repetidamente nos trabalhos  pastorais: "Não é assim que o mundo deveria ser!" "Por que a levou, Senhor?" "Por que agora?" "Minha alma está em angústia. Até quando, Senhor?" "Por que os culpados prosperam?" "Até quando terei esta tristeza no coração?"

Não se trata de uma crise de fé, mas de compreensão. O lamento é uma forma de oração, não é "mera raiva" ou "catarse", pois tem objetivo diferente: a reconciliação com Deus e amor mais profundo por Ele. O lamento é transformador e, ao mesmo tempo, subversivo. É a afirmação dolorida de inadequação com a situação vivida, apresentando para Deus as queixas, as perguntas, as dores, tristezas, desalentos, frustrações e decepções. É uma não conformidade com o mundo que está vivendo, bem ao estilo da recomendação paulina no capítulo doze da carta aos Romanos. 

Ao fazer a lamentação, o sofredor coloca diante de Deus os desejos e expectativas sobre como as coisas deveriam ser e a injustiça de como são. Ao dirigir-se a Deus o faz na fé de que, por mais complicada seja a situação, Ele pode revertê-la, e isto é radicalmente contracultural e um tremendo ato de fé. O lamento aponta para a possibilidade de que não estamos presos em situações sobre as quais não temos controle ou poder para moldar nosso futuro, porque o lamentador olha para o Criador e a Ele pede mudanças.

O lamento afirma que o estado atual do mundo não pode ser legitimado por um otimismo cego ou falsa esperança no progresso humano, e que a dor da criação de Deus também deve ser abraçada, juntamente com a alegria na esperança da reversão da situação.

Deus te abençoe,
Rev. Marcos Inhauser

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